sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Meu lugar no mundo (Parte 1)

Quando eu era pequeno queria ser astronauta. Fazia rabiscos de como seria a nave. Até alguns anos atras eu possuía alguns rascunhos que sobreviveram a minha adolescência, mas não a minha vida adulta.

"Não importa quantos anos eu viva, estou preso nesse planetinha, sem nunca pisar na lua, sem nunca ver de perto a nebulosa de Orion" pois é, eu fico divagando em coisas absurdas.

Depois de uma certa idade ainda criança eu queria morar em um "treiler", na minha cabeça cada dia em uma cidade seria perfeito. Na verdade ás vezes na minha cabeça adulta ainda é. "Bom dia estrada"

Mas não importa onde eu fosse, quantas cidades eu passasse, lugares novos conhecesse, nunca me senti encaixar em nada.

Lar, na verdade é uma palavra simples para muitos, mas bem estranha para mim. Minha mãe sempre brincava quando eu partia para algum lugar a esmo no mapa, que "Não é possível você deve ter sangue cigano" de tanto que peguei minha mochila e viajei por este nosso pais.

"Que cidade é essa?" uma voz pergunta no tempo. "Penalva" Responde a voz na outra ponta da conversa. Tempo girando como memoria solta. Carta solta no baralho.

Países. Espaço geográfico que um bando de homenzinhos resolveu dizer que é seu. Acho que na verdade é meu sangue índio advindo de minha avó que me compele a ir por ai, viajar, mas não importa onde eu esteja eu não consigo chamar um lugar de meu. Eu acho que o mundo nao devia ter fronteiras, nem territórios, mas isso nao faria bem para a economia? Não é mesmo?

No meu mundo perfeito, não há fronteiras, não há governantes e todos sabem respeitar suas diferenças sem precisar de alguém para , seja através da coercibilidade da norma, exercer seu poder sobre o outro. Uma humanidade de "santos" utopica. Meu pisar na lua.

Eu durmo na rede, porque gosto da sensação de estar balançando no ar. Eu moraria em um "treiler" mas o preço da gasolina me impediria de ir a tantos lugares nenhuns e arrabaldes possiveis. Na minha vã caminhada em busca ao meu lugar no mundo.

Eu acho que nunca vou encontra-lo de fato, pois no fundo, o mundo não é meu, é de todos. embora muitos discordem disso, seja por concordância passiva. Eu to preso nesse farelinho de cosmo chamado planeta terra. Se eu fosse rico seria excêntrico, mas como não sou.

Me contento em ser apenas mais um cara esquisito na estrada. Onde quer que ela me leve. Mas que me leve, leve de espirito.

Muitas coisas deixei para trás, rascunhos de espaçonave, "treiler", a minha completa descrença na humanidade e a raiva excessiva, foi dando lugar a uma busca pela serenidade e uma busca pela compreensão do outro, mas eu tenho serias duvidas se tenho vocação para ser alguém sereno, ou mesmo compreensivo de fato.

Tento não julgar, ser justo, mas estou longe de ser um santo. Nem tenho sequer tal pretensão. Eu vejo certas coisas e penso comigo "isso não é normal, como as pessoas aceitam isso?" e fico na esfera da filosofia, de pratico, sei que nada faço alem de pensar muito a respeito.

Meus pés descalços. Meus olhos cansados. Acho que meu mundo caberia em uma mochila, e talvez um dia eu vá buscar as neves do Kilimanjaro, sinto que ainda existe algo a tentar reconciliar dentro de mim. Eu simplesmente não me encaixo. E ainda não descobri meu lugar no mundo. Nunca estive fora do meu país, e isso também me deixa inconformado.

Será que faz parte da natureza humana, essa necessidade de buscar alguma explicaçao racional? Ou mesmo de fazer parte de algo? Ou tudo o que me resta será sempre a estrada, devorando o horizonte a cada dia? Buscando eternamente por Eldorado? Onde os tesouros nao seriam as pedras de seus prédios, mas as pessoas de sua cidade? Pois é assim Eldorado em minha mente. Onde o ouro, seriam as almas de seus habitantes. Sorrisos luminosos como Orion.

Ás vezes queria saber de qual tribo eram meus ancestrais indigênas. Talvez fizesse algum sentido.

Corre em minhas veias o sangue do índio, do negro e dos colonizadores europeus, portugueses e holandeses, minha certidão de nascimento me diz que sou brasileiro, mas meu coração continua me perguntando. Qual o meu lugar no mundo? E é uma voz mais forte. Uma voz tão forte. Que tem um estrondo maior que mil trovões.

A estrada é minha, embora não seja. Embora as areias do tempo escapem pelos meus dedos com sereno sopro de silêncio. Imperceptível. Inaudível. Insólito. " Não sei para onde vou...Não sei por onde vou, só sei que não vou por ai!".

E assim segue uma sensação de solitude solene em algum ponto de Orion. E em algum ponto entre as estrelas existe tinta e luz. Memória. Tempo. O estrondo que talvez nunca tenha terminado de verdade. Fronteiras são para os fracos.
















Um comentário:

  1. O que está escrito é tudo o que sinto! E é tão bom ter certeza de que não estou sozinha...

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