terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Desconstruções

Tudo o que eu mais planejava para as minhas ferias foi justamente o que menos fiz. Arte. Pelo menos não do tipo que se usa tinta. Ate o presente momento.

Mas minhas férias nem terminaram. ainda há esperança para o papel e para a tela. Se tudo der certo ainda faço algo bacana.

O mais engraçado de tudo é que os trabalhos que eu menos gosto sao geralmente os que agradam as pessoas, mas nestas ferias aconteceu diferente. E diferente é sempre bom, pelo menos para mim.

Estou chegando a seguinte conclusão sobre as ferias, basta imaginar tudo ao contrario, porque eu sempre faço o contrario de algo planejado. A boa e velha impulsividade, por mais que eu trabalhe ela. Ela sempre da as caras.

Estou menos preocupado com a realidade na criação de telas. Se é que algum dia de fato a realidade me preocupou.

Acho que posso resumir essas férias como um tempo para inspiração. E que as coisas que foram adquiridas durante elas imateriais que sao, estarão presente de alguma forma em algum de meus próximos trabalhos, escrevi bastante estes dias, coisa que nao fazia ja havia algum tempo. Criação. . Eu ate deveria agradecer aqui algumas pessoas, mas sei la, ha outras formas de dizer "muito obrigado"

Acho que estou em uma especie de processo de dissecar as coisas, tentar entender como funciona, colar de qualquer jeito, pelo menos isso na minha cabeça e fazer algo a respeito, amanha vou comprar papel e colocar a mão na massa, enquanto o sorriso ainda esta fresco na minha mente.

Engraçado pensar que tudo o que criamos é uma especie de Frankenstein de idéias, tantos livros lidos, momentos vividos, pessoas que serviram de alguma forma de inspiração. E no processo de desconstrução das coisas você acaba notando fagulhas de tantos cantos, poetas, músicos, filósofos ou mesmo pessoas que passam em sua vida e acabam servindo no processo reverso, o de criação.

Tem sentido leitor? A arte é nosso pequeno grande monstro, criado dos mais diversos retalhos de nossa mente. Tentando ver um pouco mais como crianças, onde alguns pedaços de madeira em algum ponto do tempo, junto com fios eletricos e lampadas eram capazes de em minhas mãos infantis virar um robô.

Será que eu consigo desconstruir o suficiente?

sábado, 28 de janeiro de 2012

Meu lugar no mundo (Parte Final)


"É só pegar a estrada" e assim vou seguindo meus dias. Já fui em varios lugares ao longo da minha vida, pretendo ir a mais lugares ainda. Talvez um dia eu ate mesmo me aliste na legião estrangeira, como no desenho do Pica- Pau, ou resolva descer as Cataratas do Niagara em um Barril.

Enfim a cada dia que passa eu chego mais e mais a conclusão que o meu lugar no mundo, é onde meu coração quer estar, por quaisquer loucas que sejam as razões. É mais ou menos como a bussola que aponta sempre para aquilo que mais se deseja, daquele filme de piratas.

Só tem um porém. Eu to cansado de muita coisa. Cansado em nível extremo. Na alma. Aqueles que me conhecem bem sabem que quando chegam com algo para mim esperando uma empolgação extrema, vão receber no máximo um "legal" como resposta. E esse estado é algo que tem durado muito tempo, e meu unico medo é jogar a toalha e abraçar o comodismo, a impressao ruim de ja ter visto um filme antes e saber como é o final.

Acho que é por isso que eu fico zanzando por ai, para ver se sinto meu coração bater de novo, com aquela velocidade da surpresa, seja ela boa, ou má. Mas que mesmo por instantes eu me sinta vivo. Não acredito na durabilidade de nada, embora eu ache o extremo do cinismo utilizar a frase "Que seja eterno enquanto dure" como um mantra para nossa sociedade fast food, onde tudo é consumido esmagadoramente rápido e descartável. Um clic, próxima tela.

Enfim eu nao quero o calor morno de uma manhã de domingo. Eu quero a intensidade dos quasares a rasgar o cosmos. Eu quero o eterno por mais breve que seja a minha existência, e que ela nem sequer comportasse uma eternidade, e nesse aspecto para entender melhor o que eu quero dizer com isso, vou repetir uma frase que sempre dizia uma amiga minha, que nem sequer fala mais comigo devido ao meu gênio e o dela serem como são. "Só por hoje é o para sempre que nunca acaba. Obrigado Shantall , onde quer que você esteja. Você faz falta. E esta frase faz todo o sentido para mim.

Aprendi muito com as pessoas na estrada, aprendi ate mesmo a gostar delas, a ter mais respeito por elas, e tentar entende-las. A minha hermenêutica nunca será a mesma que a sua caro leitor. Meus motivos menos ainda. Eu penso torto. Sou um tanto quanto penso na cuca pensa.

Durante muito tempo me perguntei qual seria meu lugar no mundo, e neste momento, uma das poucas certezas que tenho é que sei exatamente onde quero estar. Por menos duradoura que sejam as coisas.

Valeria a pena abraçar o sol em voo com asas de cera, valeria cada segundo respirado, cada pulso, cada asa partida. Sempre vou admirar Icaro, por maior que tenha sido sua insensatez. Mas sua imensa capacidade de sonhar.

Valeria a pena, fosse para seus raios queimarem cada celula do meu corpo ou meus ossos virarem farelo na queda, sempre vale o risco, mesmo que por momentos de felicidade, afinal nada é pleno, é assim que vejo o mundo, uma transitoriedade que deveríamos tratar com mais zelo quando nossos rumos se cruzam, isso se eles se cruzarem um dia , caro leitor. O que quero dizer com isso? Não é porque é breve que é desimportante. Não é porque existe a possibilidade de doer na alma, que nao vale a pena ser vivido um dia.

"Quem teme a derrota ja esta derrotado" isso vinha escrito no meu kimono de judô. Ficou gravado na alma.

Eu luto contra o cansaço. Se eu fosse um pugilista seria como Rocky Balboa, que apesar de tanta porrada nunca jogava a toalha. O melhor boxeador de todos os tempos que nunca existiu, ele derrubaria Mohamed Ali por pura persistencia. Sempre tive essa crença.

A vida é mais breve que a gente pensa. E o que seria de tantos sorrisos se nao soubessemos o que sao lagrimas. Mas isso é porque eu fui criado com o mantra "Caiu?Levanta!" e seguiria de ossos trincados por longo percurso, rindo feito o louco que sou, espumando e fazendo piadas em minha mente nas quais poucos poderiam entender se eu contasse. Porque só fazem sentido para mim.

Eu levo a serio muita coisa, e varias vezes eu acabo desafiando o que ouço, tive dias felizes, estes dias. E as areias vão aos poucos cobrindo esses momentos. Mas em minhalma ficará sempre gravado aquela sensaçao de sentir por momentos o ar encher meus pulmoes e eu sentir meu coraçao batendo de novo com a possibilidade do mero inesperado.

Mudar de ares faz bem, e pelo menos neste fragmento de estrada sei exatamente onde quero estar, neste momento meu lugar no mundo me chama como um trovão em dia ensolarado, e eu estou sempre pronto para a tempestade. Eu caio. Eu levanto. Eu sinto a dor. Eu nao demonstro. Mas o que eu resolvo passar adiante seja por birra, é um sorriso e uma palavra amiga, e muitas vezes eu sei que pago o preço alto por isso. Mas foda-se, eu sou assim mesmo. Talvez o mundo um dia me vença, mas nao será hoje. Hoje não. Pois eu sei que tenho meu lado ruim, que apesar de estar quieto, sempre esta ali espreitando por mim. dificil virar a outra face ou nao devolver na mesma moeda. Mas somos seres de escolhas. Eu faço as minhas.

A estrada me aguarda, mas antes de uma caminhada, me recolho ao meu silencio, teimando em nao deixar que o cansaço me vença.

Dominós colidem, ainda ouço seus ecos no tempo. Talvez se eu rompesse a barreira do som tudo isso passasse, mas eu me contento em buscar Eldorado e ouvir meu coraçao, para ver se ele bate acelerado. Tic tac, tempo.

Tic tac Pulso.

Meu lugar no mundo, mas só para este momento. Apenas um trem descarrilhado tentando voltar a sua pista de corrida.

Tic tac Clic.

Boa noite meus caros amigos, ou anonimos...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Meu lugar no mundo (Parte 4)



Pare de ler aqui. Faça o contorno em Albuquerque ou em outro lugar qualquer de seu agrado. Ou simplesmente de meia volta. Não pise com desrespeito em solo sagrado. Alertas e placas. Lugares ermos, labirintos e becos sem saída.

Sem saída mesmo?

Ás vezes a estrada aparenta ruir abaixo de seus pés. E a sobrevivência é o que te move. Manter a mente calma, já me ajudou em muitas coisas. Ás vezes. Ás vezes foi pura sorte. Um Ás, um baralho. Jogos de cartas. Jogo de Xadrez.

Dominós colidindo. Sempre. ainda ouço seus ecos.

"O som não se propaga no vácuo"

Um trecho. Outro parte da estrada. Ela em si parece nem ser tao importante quanto as pessoas que conheci em seu caminho sinuoso e estranho. E eu que ja não gostei de gente um dia.

Cada pessoa uma caixa de surpresas. Boas ou ruins? Não...apenas surpresas, e fique feliz por isso. Antigamente eu achava que a humanidade era um caso perdido. Utilizando de uma optica bem darwinista. Um tipinho um tanto quanto insénsivel em muitos momentos. Quase rezando por um meteoro por um fim nisso. Fazer companhia aos dinossauros. Mas quando se muda um pouco a forma de ver, com um pouco mais de esperança, dosada com algumas gotas de razão..."Ei eu disse que não existem fórmulas". "Ok me desculpem". Mas enfim para mim
funcionou. Prisma.

Cena do passado.

Quando eu era criança eu caminhava pela estrada de ferro aqui próxima onde moro, havia menos muros na época. Eu percorria sempre para ir para a escola. Vez ou outra alguém se machucava ou mesmo morria. Algumas lembranças ficarão estampadas para sempre na minha cabeça. Trilhos. Tempo.Vida.

Todos somos um grande composto de células e lembranças.

O barulho do trem, era um pequeno trovão metálico e os trilhos tremiam conforme ele chegava, mas antes disso eu sempre lembro do voo dos pássaros que praticamente acompanhava o tremor. Pássaros.

Meu lugar no mundo, meu lugar na estrada, talvez trate-se de onde eu quero estar. Agora. Onde eu quero estar. Em movimento. Querer estar através das horas, minutos, segundos. Cronometro.

Manter a calma, nem sempre foi uma característica minha, isso eu aprendi de formas estranhas. "Não importa o que aconteça, continue respirando". Essa frase dita por um amigo anos atras continua sendo meu mantra pessoal.

Tempo. E a vida passa através de seus olhos. O sabor do próprio sangue se esvaindo enquanto sua consciência luta para se manter e sua vida tenta um nadar rubro e pulsante, enquanto se afoga em si.

Certos eventos servem para mudar seu prisma. Tirar dos trilhos. Mudar a linha. trocar estação. Sintonia. E naquelas cenas rápidas de vida, o cada segundo era abraçado com a intensidade do trovão.

Eu lembro da UTI, e de nao ter forças para falar.

Lembro de um olhar. E de eu me esforçar para fazer parecer que tudo estava bem, quando eu sabia, que nada mais ali eu fazia alem de brincar de equilibrista na linha da minha vida. Nem sempre a fotografia sai boa. E eu comecei a observar as enfermeiras ao longo de seus turnos, como pessoas. Algumas gostavam de sua profissão outras claramente não. Eu me sentia um tamagoshi ligado em aparelhos. Me equilibrando em um sopro de vida.

Viver vicia meus caros, quanto mais voce vive, mais voce quer. E quanto mais ao fim da linha você se sente, parece que com mais força voce quer abraçar ela. Foi assim comigo. Eu precisei sair dos trilhos para voltar a estrada. e perceber que pode haver um pouco mais de esperança nas pessoas. E que muito do que valorizamos é uma mera fuga ilusória daquilo que nao sabemos que nos faz falta.

E isso me remete a uma tirinha que li hoje. Interludio, ludico... de tempo.

Tic. Tac. Pulso.

Aparelhos ligados indicando que meu coração ainda bate.

"Não importa o que aconteça, continue respirando..."

E assim vou seguindo na estrada e esta historia nem sequer terminou por aqui. Talvez ela me ajude a entender em algum momento.

Esperança é o melhor murro na cara. Levante. Respire. Continue andando se chegou até aqui. Nem toda lição é suave. Sussurrada ou riscada na lousa.

Onde quero ir? Qual o meu lugar no mundo? Tudo faz mesmo algum sentido em algum momento? Ar. Respira. Existe uma forma e uma velocidade certa. Para tudo? Pare tudo!Outra hora eu continuo.



domingo, 15 de janeiro de 2012

Meu lugar no mundo (Parte 3)


"Eu não tenho as respostas, nem as minhas muito menos as suas"

Pois é caro leitor. Não tenho verdades a oferecer. Cada um que busque as suas. As minhas são mera ilusão criadas pelo meu ponto de vista deste mundo. Meu ponto na estrada. Um lugar a chegar? Existe?

Tenho um chão a percorrer. Para onde vou eu exatamente não sei. Talvez tudo trate-se de onde quero estar. E isso talvez nem sequer seja de verdade um lugar, mas um estado de espirito. Mas quanto mais vasculho, somente mais da boa e velha inquietude vou encontrando.

O mundo não é perfeito porque é composto de imperfeiçoes únicas, a minha, a sua, a do outro ser humano, do lado de fora da janela, e que nem sequer esta lendo isso.

Vejo prédios e ruas, chove na metrópole. Em uma das. Cançoes de tempo batem em gotas na janela.

"Chuvoso e cinza" e nem me refiro a cidade neste momento. Há dias em que não estou com a menor vontade de caminhar, algumas vezes nem sequer acordar. "Todo mundo gosta de aparecer bonito na foto". A felicidade só existe pois há o outro lado da moeda, o momento onde ela esta ausente. Observar bem esses momentos, aprender com eles. Cruzar os obstáculos da estrada. Desafios. O que fazer quando sua própria mente passa a ser um desafio? Superar a si é o maior desafio, ou crer que superar o outro o seja? Você sabe disso?"Sabe de fato?"

Horus pesava o coração dos homens e ele nao podia ser mais pesado que uma simples pena em sua balança. Julgamentos. Qual seria o peso exato da pena? Perguntas ambíguas. Livres para sua interpretação.

Nem toda estrada é plana e suave. E a cada dia que passa absorver cada impacto das passadas é uma experiencia unica. Existe solado a prova de terremotos? Ou isso que ouço são trovões? E voce ai sentado e lendo isto, o que vê? o que ouve? o que sente? qual o sabor deste momento? O que houve? Alguma coisa se perdeu nas entrelinhas?

Quando nao há placas, mapas ou bussolas. Quando não há manuais de instrução, com fórmulas matemáticas. O que voce faz? Xinga Pitágoras? Faz trocadilhos ruins? Chora as pitangas? Péssimas piadas.

O que é fazer parte de algo? O que significa isso para voce? Foi viver em sociedade que nos impediu de virar a janta na cadeia evolutiva? Talvez sejam meras perguntas soltas ao vento. Confusas, difusas.

Quanta chuva existe dentro das horas? Quanta chuva existe dentro de você? Quando o trovão se mostra, sente vontade de dançar? Na chuva.

As horas vão martelando engrenagens soltas, peças embaralhadas. "Chuvoso e cinza". E isso nem sequer se trata da cidade e seus prédios, muito menos dela e de seus arrabaldes. Ermos. Isolados. Onde ja nao existem estradas de asfalto.

Onde tudo que sobra são pedras, montanhas e sinuosidades estranhas. Pés cansados, é um tanto dificil não escolher o lugar por mera falta de disposição física em andar. Inconformismo. Eu sei que nunca é claro o que eu realmente estou falando. Talvez tudo faça algum sentido um dia, seja ele horário ou anti-horario.

O que é o livre-arbítrio? Voce ai sabe? Mas sabe de verdade? E se sabe é bom saber? E caso faça bem saber. Qual a utilidade disso? Perguntaria Sócrates. E eu nem me refiro a algum jogador de futebol.

"Você fala esquisito". Bom, acho que nem é apenas na minha fala que aquela pessoa de algum ponto de alguma de minhas memorias encontraria a estranheza. Há gente no mundo que nem acredita em dinossauros. E aparentemente vive bem sem isso. Embora eu, do meu ponto de vista, sinceramente duvide.

Andar a esmo em campos ermos. Tentar buscar os termos que regem a minha mente. Algumas vezes é bom valorizar a solidão para saber que nem tudo na raça humana é ruim. Por mais que alguns de seus integrantes te façam querer acreditar no contrario. Viver em sociedade é necessario, pela troca de historias da estrada. Através do mundo , através das eras. Além do espelho.

Nada é perfeito no mundo de nós imperfeitos.

E as engrenagens. Fazem tic tac. Em algum ponto perdido de Eldorado...sopra o vento, cai a chuva, o trovão grita aos céus...e a estrada vai devorando as horas mesmo quando se pensa estar apenas repousando.












sábado, 14 de janeiro de 2012

Meu lugar no mundo (Parte 2)


Estradas. Tantos lugares onde estive. Tantos pensamentos transbordando pelos poros. Tantas horas. Tempo. Cronometro. A linha da vida contada em letras e lembranças. Memórias. Cada ponto que se liga na historia. Ao longo dos rumos. Portos. O som do mar, o sopro do vento, a terra pisada. O murro na cara. Onde eu quero de verdade estar? Onde se quer estar quando não se sente ser parte de nada de fato?

Perseguindo uma nova alvorada, perseguindo o horizonte, a linha na minha mente parece não findar, mas basta olhar um pouco acima. Uma lua. Estrelas. Onde eu quero estar? Onde não posso estar?

Dormir ao relento ao luar, dormir na estrada. Ver as luzes das estrelas na varanda de uma cidadezinha pequena, perdida no mapa? Onde? Um ponto qualquer. Um ponto de vista. Um ponto e pronto. Carta solta no baralho, é mais que uma simples alegoria que dança além das metáforas, é um sentimento.

"...Só sei que não vou por ai..." Nem astronauta, nem andarilho, apenas mais um angustiado. Desenho, escrevo, faço pinturas, mas nada disso me define. Toda definiçao prende, restringe. Podemos de fato ser livres? Ou a liberdade é a mais tortuosa de todas as ilusões que abraçamos ao longo de nossa estrada? Quero escolher meu lugar tomando meu destino de volta em um campo de batalha que fosse, ao invés de fazer tal escolha por mero cansaço. Odeio comodismo. Respostas prontas. Formulas inquestionáveis. Tudo isso me desagrada. Eu sou assim inconformado.

O tempo tritura as areias. A chuva bate em minha janela. O vento sopra e minha mente vai longe. Coração e razão, sempre vão estar numa queda de braços. Mudando a regra do jogo a cada instante.

Um querer em queda livre.

Devaneios alterados de tempo. Qual minha parte nisso? Onde me encaixo? Algum dia me sentirei de verdade parte de algo? Ou é essa inquietude corrosiva que me move? E fazer parte de algo seria como aceitar um ponto da estrada. Abandonar a nave. Descer do "Treiler"? Fixar morada?

Meu (Posse) lugar (ponto onde quero estar) no mundo (indicativo de lugar fisicamente viável de estar por falta de maiores escolhas tendo de me contentar com um farelo de cosmo tão rico em possibilidades) . Definições, cada babaca tem a sua. E ninguém é dono da verdade. Nem eu.

Não esperem respostas prontas. E nem quero de ninguém tais respostas, prefiro pessoas que me tragam mais perguntas que respostas. As perguntas são nosso moto-contínuo temporal. Engrenagens. Tic tac, tempo. Luzes. Textos quebrados e peças soltas. Como tudo isso se encaixa?

"Qual o meu lugar no mundo?" giram as engrenagens do tempo, mensagens, que mais parecem miragens a escapar no horizonte, etéreas...mensagens como brumas, mensagens como tambores.

Tambores de guerra? Sempre, pois a guerra habita em meu ser e a paz de espirito que tanto busco, correndo através dos horizontes , correndo rumo a cada nova alvorada, correndo em direção as ultimas luzes de Eldorado, com cada simples gota de folego, Perseguindo o amanhã. Obstinadamente. A paz de espirito sempre escapa por entre meus dedos como grãos de areia que não posso conter por muito tempo. Eu sinto o tempo na ponta dos dedos. Na corrida contra ele. Ar. Pulmão. Corrida. Cada fibra do meu ser.

O ritmo certo da respiração, a forma certa, a hora exata. Corrida de explosão. Há tantas coisas que uma pista pode ensinar. Apoiar os pés sobre o bloco de largada, aguardando o sinal. Tecnica. Estrategia. Tempo. Memória. Correr e sentir cada parte de seu pulmão. Qual o objetivo disso? Onde quero estar?

"Eu me recuso a escolher meu lugar no mundo, por mero cansaço" e "Lar", meus caros leitores sempre será ate o que este presente indica, uma palavra estranha para mim.

Existe em algum lugar um porto a se chegar de fato?

Tic

Tac

Tempo...e os relógios respiram e param por breves instantes aguardando o disparo da largada, com seus pulmões metálicos de horas liquidas. "Meu lugar no mundo" uma frase solta na eletricidade da mente. Rodas na estrada. Horizontes e amanhãs com cheiro de orvalho. O sopro do vento nas embarcações dos nefelibatas, buscando novas alvoradas para Eldorado.

"Meu lugar no mundo". Uma carta solta no baralho.

Uma canção esquecida na estrada, que as horas carregam em seu rio, correnteza, cachoeiras, estepes, pradarias, vulcoes, geleiras, neves, florestas, cidades, desertos, alvoreceres, tempo. "Meu lugar no mundo". Clic...



sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Meu lugar no mundo (Parte 1)

Quando eu era pequeno queria ser astronauta. Fazia rabiscos de como seria a nave. Até alguns anos atras eu possuía alguns rascunhos que sobreviveram a minha adolescência, mas não a minha vida adulta.

"Não importa quantos anos eu viva, estou preso nesse planetinha, sem nunca pisar na lua, sem nunca ver de perto a nebulosa de Orion" pois é, eu fico divagando em coisas absurdas.

Depois de uma certa idade ainda criança eu queria morar em um "treiler", na minha cabeça cada dia em uma cidade seria perfeito. Na verdade ás vezes na minha cabeça adulta ainda é. "Bom dia estrada"

Mas não importa onde eu fosse, quantas cidades eu passasse, lugares novos conhecesse, nunca me senti encaixar em nada.

Lar, na verdade é uma palavra simples para muitos, mas bem estranha para mim. Minha mãe sempre brincava quando eu partia para algum lugar a esmo no mapa, que "Não é possível você deve ter sangue cigano" de tanto que peguei minha mochila e viajei por este nosso pais.

"Que cidade é essa?" uma voz pergunta no tempo. "Penalva" Responde a voz na outra ponta da conversa. Tempo girando como memoria solta. Carta solta no baralho.

Países. Espaço geográfico que um bando de homenzinhos resolveu dizer que é seu. Acho que na verdade é meu sangue índio advindo de minha avó que me compele a ir por ai, viajar, mas não importa onde eu esteja eu não consigo chamar um lugar de meu. Eu acho que o mundo nao devia ter fronteiras, nem territórios, mas isso nao faria bem para a economia? Não é mesmo?

No meu mundo perfeito, não há fronteiras, não há governantes e todos sabem respeitar suas diferenças sem precisar de alguém para , seja através da coercibilidade da norma, exercer seu poder sobre o outro. Uma humanidade de "santos" utopica. Meu pisar na lua.

Eu durmo na rede, porque gosto da sensação de estar balançando no ar. Eu moraria em um "treiler" mas o preço da gasolina me impediria de ir a tantos lugares nenhuns e arrabaldes possiveis. Na minha vã caminhada em busca ao meu lugar no mundo.

Eu acho que nunca vou encontra-lo de fato, pois no fundo, o mundo não é meu, é de todos. embora muitos discordem disso, seja por concordância passiva. Eu to preso nesse farelinho de cosmo chamado planeta terra. Se eu fosse rico seria excêntrico, mas como não sou.

Me contento em ser apenas mais um cara esquisito na estrada. Onde quer que ela me leve. Mas que me leve, leve de espirito.

Muitas coisas deixei para trás, rascunhos de espaçonave, "treiler", a minha completa descrença na humanidade e a raiva excessiva, foi dando lugar a uma busca pela serenidade e uma busca pela compreensão do outro, mas eu tenho serias duvidas se tenho vocação para ser alguém sereno, ou mesmo compreensivo de fato.

Tento não julgar, ser justo, mas estou longe de ser um santo. Nem tenho sequer tal pretensão. Eu vejo certas coisas e penso comigo "isso não é normal, como as pessoas aceitam isso?" e fico na esfera da filosofia, de pratico, sei que nada faço alem de pensar muito a respeito.

Meus pés descalços. Meus olhos cansados. Acho que meu mundo caberia em uma mochila, e talvez um dia eu vá buscar as neves do Kilimanjaro, sinto que ainda existe algo a tentar reconciliar dentro de mim. Eu simplesmente não me encaixo. E ainda não descobri meu lugar no mundo. Nunca estive fora do meu país, e isso também me deixa inconformado.

Será que faz parte da natureza humana, essa necessidade de buscar alguma explicaçao racional? Ou mesmo de fazer parte de algo? Ou tudo o que me resta será sempre a estrada, devorando o horizonte a cada dia? Buscando eternamente por Eldorado? Onde os tesouros nao seriam as pedras de seus prédios, mas as pessoas de sua cidade? Pois é assim Eldorado em minha mente. Onde o ouro, seriam as almas de seus habitantes. Sorrisos luminosos como Orion.

Ás vezes queria saber de qual tribo eram meus ancestrais indigênas. Talvez fizesse algum sentido.

Corre em minhas veias o sangue do índio, do negro e dos colonizadores europeus, portugueses e holandeses, minha certidão de nascimento me diz que sou brasileiro, mas meu coração continua me perguntando. Qual o meu lugar no mundo? E é uma voz mais forte. Uma voz tão forte. Que tem um estrondo maior que mil trovões.

A estrada é minha, embora não seja. Embora as areias do tempo escapem pelos meus dedos com sereno sopro de silêncio. Imperceptível. Inaudível. Insólito. " Não sei para onde vou...Não sei por onde vou, só sei que não vou por ai!".

E assim segue uma sensação de solitude solene em algum ponto de Orion. E em algum ponto entre as estrelas existe tinta e luz. Memória. Tempo. O estrondo que talvez nunca tenha terminado de verdade. Fronteiras são para os fracos.