quinta-feira, 1 de abril de 2010

Carta aos Moradores de Eldorado


"És como um céu de outono, róseo e luminoso!
Mas a tristeza em mim é qual o mar que avança
E deixa, ao refluir, sobre meu lábio umbroso
O amargo travo de uma cáustica lembrança.

- Sobre meu peito corre inútil a tua mão;
O que ela toca, amiga, é um sítio devastado..."

Poemas, versos. Trechos e fragmentos. Se minha alma expelisse para fora certas cicatrizes talvez houvesse cura. Todos tem problema. Uns tem gripe. Outros tem cancer e garanto que nenhum deles esta satisfeito com o que tem.

Tempo. Como conta-gotas. Toluol. Tolueno. E o antigo trampo acenando para eu voltar com seus frascos e vidros e plasticos e liquidos. De todas as voltas que eu não sei se pretendo fazer em definitivo. Nocivo. Venenoso. Corrosivo.

Queria correr daqui. Ir para as montanhas. Ler um livro. Terminar de ler outro.

Peixinhos dourados deveriam manter distancia destas linhas turbulentas-tortuosas. Eu trago tempestades e terremotos e Eldorado foi engolida na ultima inundaçao. Alguns perseguem o amanhã na outra ponta do mundo. E eu persigo imbecilmente meu proprio rabo.

"O que voce vai fazer la? La não tem nada, só frio e bacalhau, nao tem nada para ver"

Frases recortadas e eu ainda assim quero pagar para ver nem que o hidromel seja bebido in memorian. Seriam os cascos dos cavalos das valquirias ou trovôes perdidos na noite escura? Uns tombam em batalha, outro envelhecem. Uns buscam paz, outros a guerra os persegue onde quer que vão.

"Não brinco mais"- Esta frase é minha.

"Mancada master"- E voce tentou adivinhar pessimamente os motivos. Eu nao penso linear.

"Desceu pro play tem que brincar" - Nossa como eu queria te cobrir de porrada por isso.

Detesto demais ter de me explicar, como se ja nao bastasse satisfações serem cobradas, pior é nao ser ouvido quando se faz necessario. Eu atraio gente intransigente ou louca.

"Queria poder te explicar. Mas nao por e-mail, nao foi por nada disso que pensou, ou conclusao que chegou. Mas enfim to cansado de explicar minha linha de raciocinio para todos.

Me perdoe mesmo. Jamais descartaria sua amizade..."- Trecho de um e-mail que foi bloqueado por algum filtro, e foda-se, me da raiva de ter sido interpretado errado.

Por outro lado. Eu nao quero certas pessoas mais rondando meu quintal, muito menos que pisem em solo sagrado com os pes imundos, tambem nao quero gente que entre sem bater na porta ou sem ao menos perguntar se algo que esta na cara que vai me incomodar, se vai mesmo me incomodar. "Pelo menos deveria ter perguntado"

Ja nao me bastassem problemas, e Eldorado estar longe. Não bastasse eu ter perdido a porra do mapa no desvio em Albuquerque. Nao bastasse eu ter perdido os parafusos na ultima turbulencia, fica um peixinho dourado rondando a minha volta, nao sei se eu abraço e esmago essa doce criaturinha no aquario ou se dou umas pauladas e ponho ela para correr. Não sou boa companhia nem para mim nestes dias. Queria poder me ausentar das pessoas.

Sei que tem gente que le e se regorzija, alguns conquistam a vitoria em sua pequeneza.

Eldorado nao existe.

Paz nao existe.

A minha esperança nos seres humanos não existe.

Sempre pensei que eu era um cara que morreria abraçado as minhas crenças, mas sinceramente, prefiro morrer abraçado na minha palavra dada, pois para eu fazer isso vou ter pensado e analizado um milhao de vezes antes de faze-lo...E minhas crenças meus caros podem mudar a qualquer momento.

Tic tac tempo

"Falhei abissalmente em ter esperança na humanidade"

Sigo pela estrada ja exausto, e cansado de estragar certas coisas, as poucas que ainda me sao preciosas, nem que sejam poucas pedras destroçadas, as ruinas de Eldorado, nao por seus tijolos de ouro.

Cansado e caminhando e pensando o que nunca ocorreu a ninguem neste mundo, que talvez fossem as pessoas, o grande tesouro de eldorado. E que as pedras, fossem somente pedras.

Cansado em nivel molecular. Pensando em Eldorado.

O tempo é ilusao. Estrada e bifurcaçao. "Peixinho dourado, cai fora daqui!"

Estrada e nada resta aqui.

Mas os moradores de Eldorado debandaram, esperando os perseguidores do amanhã. Sempre buscando o raio de sol perfeito. Cronometricos. Metodicos, insatisfeitos, eternamente. Tic tac.

Estrada e o rumo que eu quero agora pode ser diferente do amanhã , que é outro agora. Livre-arbitrio existe? Ou nossas escolhas sao viciadas por toda sorte de cicatrizes que carregamos?

Eu nao creio em mais nada. Muito menos em você leitor. Tic tac, o homem-de-lata, sem coração, sem rumo ou direção, caminhando exausto pela estrada e querendo parar de sonhar. eu ando muito fatalista estes dias. Sei como começa, sei como termina e..."Não quero mais brincar"

Aos moradores de Eldorado, onde quer que estejam, se tentarem me provar o contrario, estejam prontos para a guerra, pois eu nao quero mais merda de paz nenhuma. Buscar por ela só piorou meus problemas.

Eu vou zarpar daqui, este ponto nao é o que quero e nao tem o banco do carona. Cansei. Cansei.Cansei abissalmente. Campos minados armados novamente.

Dia dos tolos, mas nao há uma mentira sequer neste post.

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